quarta-feira, 16 de abril de 2014

Estudo sobre ciclo de corte em Sinop é destaque em revista científica internacional

O artigo apresenta que, com uma extração bem planejada para evitar dano à floresta, um ciclo inicial de 25 anos seria suficiente para recuperação de 30m³ na área em estudo
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A revista científica online internacional “Open Journal of Forestry” publicou, no fim de março, artigo de autoria de pesquisadores da Embrapa Florestas (Colombo-PR) sobre pesquisa realizada em áreas de manejos das florestas de Sinop/MT. O artigo com o título de “Strategies for Achieving Sustainable Logging Rate in the Brazilian Amazon Forest” indica que o trabalho dos pesquisadores identificou, fundamentalmente, que o ciclo de 35 anos para extração de 30m³, atualmente utilizado, excede o tempo necessário de recuperação de floresta primária naquela região. Assim, demonstra que, com uma extração bem planejada para evitar dano à floresta, um ciclo inicial de 25 anos seria suficiente para recuperação de 30m³ na área em estudo.

O trabalho trata sobre taxa de corte e ciclo de corte. Conforme explica o pesquisador engenheiro florestal da Embrapa Florestas, Evaldo Muñoz Braz, como se sabe, o ciclo e taxa de corte definidos atualmente pela Instrução Normativa (IN) 05 de 05/12/2006, do Ministério do Meio Ambiente, é de 35 anos e 30m³/ha/ano para toda a Amazônia, não especificando características de diferentes tipologias ou subtipologias florestais. Portanto, se, para algumas regiões, isto pode ser um valor alto, para outras, no entanto, pode ser um valor baixo, prejudicando, assim, os produtores de madeira.

De acordo com ele, a utilização de normas fixas é o que impede o manejo real das florestas naturais na Amazônia, eliminando a possibilidade de gestão da estrutura da floresta e tratamentos silviculturais específicos, baseados em crescimentos e estoques diferenciados, dentre outros fatores. O correto seria a regionalização das informações e a possibilidade de normas de manejo diferenciadas para a Amazônia.

O trabalho também identificou que o incremento da floresta (além de fatores importantes como o incremento individual das espécies) é bastante dependente do estoque comercial remanescente. Por outro lado, ciclos muito longos podem resultar na redução do incremento médio, pois as árvores, ao se aproximarem dos seus pontos de máximo incremento médio anual, tendem a reduzir seu potencial de crescimento. Assim, sugere-se que o ciclo de 25 anos, apontado pelo estudo, seja o mais adequado para as florestas primárias da região de Sinop, considerando uma taxa de extração de 30m³ ha/ano. Por outro lado, segundo enfatiza a pesquisa, diâmetros ótimos de corte por espécies ou grupos de espécies juntamente com tratamentos silviculturais, estão sendo pesquisados pela Embrapa Florestas, buscando máxima produção e menores ciclos.

A entidade está também valendo-se da ferramenta dendrocronológica (método científico de estabelecer a idade de uma árvore baseado nos padrões dos anéis em seu tronco) para obtenção de séries longas de crescimento e refinamento dessas informações. Atualmente sete espécies principais para produção madeireira estão sendo estudadas pela Embrapa Florestas.

Como exemplo está sendo concluída a dissertação de mestrado intitulada "Critérios para o manejo sustentável de duas espécies madeireiras de florestas naturais do Mato Grosso", na pós-graduação do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná sobre o cambará e cupiuba. Para Muñoz resta saber se ‘prata da casa’ ou ‘santo de casa’ fará milagres no âmbito estadual.

Sobre o assunto o presidente do Fundo de Apoio à Madeira (Famad), Jaldes Langer, explica que o que se tinha antigamente em questão de dinâmica de crescimento de florestas, principalmente de manejo, era algo que se achava apenas de forma prática, pode-se dizer assim. “Esse trabalho foi conduzido de forma muito séria com pesquisa, com dados científicos, com números comprovados in loco na floresta de um Doutor na área de manejo e um pesquisador da Embrapa. Com isso nós temos dados reais da dinâmica de crescimento da floresta, principalmente da regeneração, e qual o estoque que resta numa floresta após o seu manejo. Então, o setor terá dados concretos sobre manejo florestal. Não terá algo que alguém ‘achou’ que era assim. Esse subsídio será muito importante para o segmento”, salientou.

O presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Estado de Mato Grosso (Sindusmad), Gleison Tagliari, também aponta que o trabalho científico, realizado pelo professor Muñoz, da Embrapa, veio realmente ao encontro com o setor florestal no sentido de ter uma base técnico-científica verdadeira de como se comportam as florestas em nível de ciclo de corte, incremento e classe diamétrica de corte para as diversas espécies estudadas. “Foram estudadas especificamente seis espécies nativas da região amazônica, principalmente da região de Sinop, e obtivemos resultados diferentes para cada uma delas, principalmente quanto ao ciclo de corte e incremento. Mas, a notícia boa, é que, de todas as espécies estudadas, os números alcançados foram bastante superiores aos adotados hoje sem critério científico nenhum, sem uma base fundamentada e que, hoje, norteiam as atividades do setor florestal através de Resoluções do Conama. Então esse estudo vai nos dar suporte e dados técnicos que possam justamente contrapor as colocações impostas pelo Conama, meramente impostas porque não têm estudo”, lembrou.

De acordo com ele haverá ainda este ano novo estudo para que os dados sejam validados. Este deve ser realizado em outra região para que os dados sejam mais confiáveis e será feito juntamente com a questão da regeneração da floresta que é o complemento que falta para viabilizar projetos de manejo de longo prazo.

Mercado
Tagliari destaca ainda que esse estudo atinge, primeiramente, projetos de Plano de Manejo. “Ele vai nos dar a possibilidade de criarmos o que podemos chamar de ‘Manejo Inteligente’. Hoje se padroniza uma classe diamétrica de 30 cm e utiliza-se isso para todas as espécies. O manejo estudado de forma inteligente vai nos determinar diferentes classes diamétricas para várias espécies da floresta inclusive indicando ciclos de corte de diâmetros bem abaixo do esperado e em algumas espécies também um pouco acima. Isso nos leva a conferir que naquela classe diamétrica há um crescimento e uma evolução muito mais rápida dos que as outras. Então o manejo inteligente vai determinar o diâmetro ideal de corte dessas espécies para que tenhamos o máximo incremento da floresta, ou seja, teremos uma regeneração da floresta em menor tempo utilizando esses critérios e assim possibilitando uma colheita de árvores de maneira mais econômica e sustentável”, garantiu.


Fonte:
Assessoria Cipem

quinta-feira, 27 de março de 2014

Panorama geral do Manejo Florestal Comunitário no estado do Acre de 2000 a 2010


Foto: Andreia Ribeiro
Não é de hoje que governos juntamente com universidades, organizações não governamentais – ONGs, e a sociedade em geral discutem a sustentabilidade na Amazônia Legal. O estado do Acre, que está inserido nesta região, participa de algumas dessas alternativas, como o programa de Manejo Florestal Comunitário, que conta com diversos parceiros, como exemplo, BID – Banco Interamericano do Desenvolvimento,  BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento, MMA - Ministério do Meio Ambiente, entre outros não menos importantes, desde a década de noventa, como afirma o pesquisador Evandro Araújo de Aquino, Pedagogo e Mestrando do Curso de Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Acre (UFAC).

Conceitualmente, manejo florestal para fins madeireiros, nada mais é que um método de planejamento para retiradas de árvores da floresta, utilizando da engenharia para que haja o menor impacto possível ao meio ambiente, e que, seja economicamente viável a venda de sua matéria prima, neste caso, a madeira. Em se tratando de manejo florestal comunitário, este planejamento é feito nas comunidades rurais e extrativistas.

O processo de disseminação deste programa é construído ao longo do tempo nas comunidades extrativistas, para que haja um conhecimento da prática. Com o passar dos anos notou-se uma ascensão no numero de famílias  inseridas no PMFS – Plano de Manejo Florestal Sustentável Comunitário, passando de 7 famílias em 2000 para mais de 400 em 2010, evidenciando uma evolução de mais 5.900%. Esta tendência pode ser verificada no gráfico de crescimento de adesão de famílias ao programa no período de 2000 a 2010.

O PMFS Comunitário está em todas as regiões do estado, Alto Acre, Baixo Acre, Juruá, Envira e Purus. A maior concentração de famílias inseridas no programa encontra-se no Alto Acre, que compreende os municípios de Xapuri, Brasileia e Assis Brasil, com 233 famílias. A menor concentração situa-se na região do Purus com 36 famílias.

Conforme cresce o numero de famílias manejadoras, o volume de madeira explorado para comercialização também aumenta, possibilitando mais matéria prima para as indústrias madeireiras do estado, como mostra o gráfico: De 81 metros cúbicos em 2.000 para 45.000 em  metros cúbicos em 2010, representando um aumento de mais de 55.000%.

Nesse período de 10 anos é notável o aumento da adesão das famílias comunitárias ao manejo florestal, indicando que a atividade está em expansão em todas as regiões do estado do Acre. Assim sendo, em termos quantitativos o manejo comunitário difundiu-se, porém, para se ter uma visão mais completa deste panorama, é fundamental avaliar a existência de um programa de comercialização da matéria-prima e o retorno econômico aliado às questões ambientais.  O resultado destas avaliações  contribuiriam para uma análise qualitativa do PMFS Comunitário, pois, para que uma atividade seja sustentável, ela deve contemplar, no mínimo, os aspectos econômicos, ecológicos e sociais.
 
Andreia Ribeiro